Uma aguarela na "pseudo" praia de Limipicos. Nunca soube a razão do nome deste local entre a Praia do Sul da Ericeira e a Foz do Lizandro; presumo que venha de Limos e Picos (ouriços). Pelo menos foi a história que eu construi. Também não sei se, desde que a praia do Sul tem palmeiras, este nome já mudou. Para mim será sempre Limipicos onde, quando os pais nos deixavam, em criança, tomávamos uns bons banhos na maré baixa. Não chega a ser uma praia - um pequeno areal cheio de rochas que na maré baixa faz com que o mar, mesmo se forte mais ao fundo, venha bater aqui com calma e força perdidas.
No seguimento do post anterior uma aguarela de tamanho maior, também feita no local, duma das fortalezas da vertigem.
Trata-se do castelo cátaro de Quéribus, nas Corbières, um dos meus preferidos. Já o conhecia de uma passagem apressada e sob o sol escaldante de Agosto. Desta vez também não me livrei do calor depois da penosa subida mas, como havia pouca gente, pude encontrar um lugar debaixo de uma pequena árvore e sentada no pequeno banco que transporto na bagageira do carro aproveitei para tentar captar aquele momento de beleza, de silêncio, de espanto. Tocam-me muitos estas solitárias sentinelas que abrigaram os "parfaits". Ali percebi a frase tantas vezes lida, quando tentei conhecer um pouco mais dessa religião e da vida desses homens e mulheres - Benvengut aquèl que nos ven mans debèrtas - Bem vindo aquele que vier de mãos abertas. Só assim se pode ver para além das ruínas, para além do calor ou do frio, para além da solidão, para além ainda do esforço que, muitas vezes, é preciso fazer para se chegar junto delas. Ficou-me a pena da falta de tempo para captar todos esses castelos, todas essas ruínas e vi apenas alguns e algumas!
Já tinha visitado, num dia, três castelos cátaros, há uns anos atrás, mas estas fortalezas da vertigem sempre me atrairam assim como essa época histórica de fé e guerra. Quando olho à minha volta sinto que em nada aprendemos com a História.
Deixo aqui os que registei no meu caderno de viagens. Fiz vários outros esquemas que penso acabar ou a partir deles fazer algumas aguarelas. Estes foram os feitos no local com o tempo sempre muito escasso.
O impressionante castelo de Peyrepertuse, extenso e composto por duas partes distintas e muito em ruínas. Difícil de visitar sobretudo para quem, como eu, tem vertigens. Apenas visitei uma das partes, a mais acessível. Felizmente vejo bem ao longe e pude ter uma percepção de todo aquele local. Tal como achei da primeira vez, este e o de Quéribus (dele fiz uma aguarela no local que hei-de colocar aqui) tinham as suas torres de maneira a poderem comunicar entre si; se não for verdade eu gosto de acreditar que assim é. A composição da direita foi a possível do local onde deixámos o carro. A outra é um desenho de uma janela do interior
Left - An interior window. Right - An watercolour from the Cathat Castle of Peyrepertuse.
Um rápido esboço feito da terra que fica no sopé do monte onde está incrustado o castelo - Duilhac-sous-Peyrepertuse.
A quick sketche from the nearby village - Duilhac-sous-Peyrepertuse.
Duas das quatro torres que compõem o castelo de Lastours. Esta aguarela, muito mal feita, foi pintada em pé junto ao carro enquanto discutíamos se o visitaríamos ou não atendendo à hora e ao que ainda queríamos ver. Se há coisa que detesto é desenhar ou aguarelar enquanto falo. Talvez por isso goste sempre muito destes cadernos porque sinto ainda o que vivi em cada local.
Two of the four tours of the Castle of Lastours.
O castelo de Montségur sobre o impressionante monte a que os franceses chamam "pog".
Montsegur's Castle.
O Castelo de Arques fica no caminho dos castelos cátaros mas serviu apenas como residência e está demasiado recuperado. Contudo, foi uma benção passar por lá pois eram horas de almoço e o que encontramos na terra não só era caro como demasiado turístico, o que detesto em França. Como íamos seguir para outros castelos fomos andando, sempre com medo das horas pois, no interior, os franceses almoçam cedo. A certa altura vimos numa pequena povoação a indicação dum restaurante que se chamava Chez Divine; como a fome apertasse avançámos cientes de que talvez fôssemos enfiar um grande barrete. Era mesmo divino. Frequentado apenas pelos locais, era uma hospedaria e por 11 euros tivémos direito a entrada (salada com patés caseiros), prato princiapal (variado mas bom), queijo (uma tábua de queijo para nos servirmos à vontade), doce (no meu caso uma bela tarte de maçã), vinho ou outra bebida e café. Quantidade abundante, diria mesmo demasiada, serviço impecável e muito atencioso. Mais comentários para quê?
Alguns já devem ter reconhecido o traço inconfundível do Pedro dos Bonecos de Bolso. De facto o desenho é parte duma folha A4, cheia de linhas e letras, para me tentar explicar como se desenham escadas. Achei graça ao cobertor e ao espelho, outra ignorância minha, e resolvi escrever uma pequena brincadeira que lhe dedico em jeito de agradecimento.
Quando um pé afaga o cobertor o outro reflecte-se no espelho
Aguarela feita no barco em que dei um grande passeio no Canal du Midi a partir de Carcassonne. O que salvou esta aguarela foi a falta de tempo e a rapidez da pincelada. Creio que a beleza do local inspirou a pureza da aguarela.
na Quinta das Conchas. Quando vim viver para aqui, há mais ou menos 14 anos, ainda se andava lá por dentro; agora não só lhe roubaram terreno, para a desenfreada construção, como o emparedaram e devem estar à espera que ele caia por si. Pensar como ele deveria ter sido quando a família Mantero o habitava é, hoje, um grande desafio.