A todos os amigos e a todos que aqui venham desejo Boas Festas.
Junto um texto de Miguel Torga escrito em S. Martinho de Anta a 24 de Dezembro de 1960 que, apesar de antigo, é ainda tão actual.
Natal. Já tudo dorme. e só eu, na casa, rumino ainda as rabanadas. Que significam elas afinal? O mundo estará realmente povoado neste momento por uma nova esperança? Não se ouviram passos auspiciosos ao dar da meia-noite, nem houve. com certeza, parto divino em nenhuma maternidade ou estábulo. Mas sabe-se que os grandes enviados chegam sem ruído, que o nascimento de que se trata é doutra natureza, que a luz esperada tem de acender-se dentro de nós. Por isso, quando digo mundo penso nos meus próprios limites, e neles procuro descortinar os sinais concretos da maravilhosa presença. Timidamente, aflora-me aos lábios uma palavra, que só de ser balbuciada aviva a chama da lareira. Amor - repito, alvoraçado. Mas não vou mais longe. Desalentadoramente, a boca, como um sino sem alma, deixa de vibrar. É que, por artes de não sei que espírito invisível e demoníaco, começa a desfolhar-se diante dos meus olhos um calendário de dois mil anos. E, nele, a palavra mágica, que impulsivamente me saiu da alma, escrita em vão duas mil vezes...
2014-12-23
2008-12-23
Quando das mãos se libertarem os afectos, então, o Natal será.
Para os amigos e companheiros de blogagens assim como para todos que compartilhem este espaço um bom Natal e, mesmo em tempo de crise, que dentro do sapatinho haja muitos afectos.