Desejo-vos o melhor para 2018 e deixo-vos com um poema sobre a minha cidade - Lisboa - de Sophia de Mello Breyner cuja poesia me toca profundamente.
Digo:
«Lisboa»
Quando atravesso — vinda do sul — o rio
E a cidade a que
chego abre-se como se do seu nome nascesse
Abre-se e ergue-se em
sua extensão nocturna
Em seu longo luzir de
azul e rio
Em seu corpo
amontoado de colinas —
Vejo-a melhor porque a digo
Tudo se mostra melhor
porque digo
Tudo mostra melhor o
seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com seu nome
de ser e de não-ser
Com seus meandros de
espanto insónia e lata
E seu secreto
rebrilhar de coisa de teatro
Seu conivente sorrir
de intriga e máscara
Enquanto o largo mar
a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como
uma grande barca
Lisboa cruelmente
construída ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da cidade
— Digo para ver
1977
In Navegações, 1983